Em 2008, a crise mundial de alimentos desviou o investimento agrícola para países com terras produtivas e mão-de-obra barata. O Corredor de Nacala, uma das áreas mais férteis e povoadas de Moçambique, foi atingida em cheio. Pelo menos 38 empresas de agricultura intensiva instalaram-se na região. Milhares de camponeses foram expropriados e aguardam, até hoje, que as promessas de uma vida melhor se cumpram. "Terra de todos, terra de alguns" é a nova estória da Divergente. Fomos até às aldeias de Napai II, Ruace e Nakarari, nas províncias de Nampula e Zambézia, ouvir os camponeses que ali vivem e que dizem estar a travar uma luta que parece não ter fim. Uma luta de David contra Golias. Jogo de Forças Na aldeia de Napai II, dezenas de homens e mulheres estão dispersos numa roda. Aguardam a chegada do administrador do distrito a quem vão apresentar as queixas que os têm consumido desde a chegada da empresa norueguesa Green Resources à região. A resistência mora aqui Há 19 anos, Agostinho Mcerneia desbravou à catanada o sítio onde hoje vive com a mulher e os sete filhos - a aldeia de Nakarari. Ali, recebeu 120 "refugiados" que ficaram sem tecto depois da empresa Agromoz - com capitais de origem portuguesa e moçambicana - se ter instalado na região. Catarse Teresa Augusto defende que o direito à terra é um Direito Humano. Diz que não ter acesso a um pedaço de terreno para cultivar é viver na miséria. Sente-se traída pelo Governo de Moçambique, a quem chama de "pai", e convida o ministro da Agricultura a ir até a Ruace. Os números Um trabalho de jornalismo de dados que se baseia nos terrenos cedidos pelo Governo, a grandes explorações agrícolas, nas províncias atravessadas pelo Corredor de Nacala. Uma das conclusões é que as empresas europeias ocupam cinco vezes mais terra do que as moçambicanas. Fonte: http://terradealguns.divergente.pt/