Biodiversidade 105 / 2020-3

Com a pandemia, a incerteza cobriu com seu manto tudo o que fazemos, nossas esperanças e as expectativas de tantas pessoas no planeta. De repente, parece que não temos a possibilidade de escalar as paredes, parecemos estar capturados, capturados no tempo dos relógios que marcam as urgências, enquanto as mortes aumentam e as palavras não são suficientes. Muitas pessoas, principalmente na cidade, se sentem aprisionadas pela solidão, sem ver uma saída possível. Devemos, dizem-nos, respeitar a nova normalidade, a abertura sem restrições “e que morra quem tiver que morrer”. É isso que os funcionários de vários governos nos vomitam. Entre tantas normativas que nos pressionam, a ciência há muito reivindicou o poder de nos guiar, decidindo não deixar espaço para nada que não fosse calculável, e proclamando o banimento da incerteza e do mistério, ao assumir que ela poderia saber tudo a partir de um único lugar, que se encontrava fora da situação que afirmava estudar. Só assim a “objetividade” seria possível. Mas, como sabem as guardiãs e os guardiões das sementes, estas, como os saberes, surgem do próprio centro daquilo que está acontecendo para fora, com a mesma irradiação das estrelas. Como disse um sábio físico, “o subjetivo é a maneira pela qual o objetivo se expressa”.